11 de ago. de 2009

Entrevista com Corey para a Creative Loafing

Máscaras, macacões e uma atitude assustadora, o Slipknot conquistou reconhecimento e críticas dos fãs e dos especialistas em música. Os fãs estão dizendo que eles estão muito comerciais, enquanto os críticos dizem que é tudo marketing. O vocalista Corey Taylor que também canta no Stone Sour, acredita que chegar aos 10 anos de existência – uma marca que muitas bandas falham em alcançar – é suficiente para mostrar que eles estão aqui, e não vão a lugar nenhum. Eu falei por telefone com Taylor antes do show de abertura da turnê em St. Paul, Minnesota, sobre a turnê, a evolução da banda, a recente notícia de um álbum solo e todos esses rumores.

Vocês só têm poucas horas antes de entrar no palco. Como está o clima no backstage?
Na verdade é um clima bem calmo. Todo mundo está bem empolgado. Nós ensaiamos ontem à noite, o que foi bom porque nós precisávamos desenferrujar algumas músicas que vamos tocar hoje. Foi estranho pra dizer o mínimo. É muito bom começar a turnê tão perto de casa. Nós sempre tentamos começar as turnês no centro oeste porque é daqui que nós viemos.

Como essa turnê vai ser diferente das outras que vocês fizeram no passado?
É muito boa. A gente se livrou da pirotecnia e essas coisas. Vamos com algo visual que vai além das luzes. Tem vídeo também mas isso é uma coisa do Clown. Musicalmente falando, essa set list vai ser uma das melhores que já montamos. Temos todos os hits – isso se nós realmente tivemos alguns hits (risos) – e é uma celebração do primeiro álbum. Estamos tentando de verdade entrar em todos esses lados diferentes para mostrar a diversidade da banda.

Eu ia perguntar em quanto o seu set se foca no novo álbum em contraste com os outros.
Com certeza nós vamos tocar coisas do álbum novo. Vamos tentar e tocar com essa set nas cidades diferentes também, e tentar colocar o máximo de coisas possíveis. Com o primeiro álbum, sem querer estragar a surpresa, nós vamos ter “Me Inside” e trazer “Purity” de volta. Vai ser muito bom.

Você está surpreso que a banda durou 10 anos?
Eu não acredito que as pessoas nos aturaram por tanto tempo, é ridículo. Isso soa cansativo mas é verdade – nós quebramos as expectativas em questão de quanto tempo as bandas populares podem durar. Logo quando você pensava que iríamos fazer algo para destruir a carreira, nós continuamos crescendo e crescendo. Para uma banda que não deveria nem chegar ao primeiro lugar, eu acho que somos muito sortudos. Eu fico impressionado com o patamar que nós chegamos e isso se tornou histórico. Isso é especial. Quando você é pequeno e está sonhando em ser um artista, um músico e um compositor, você se inspira em bandas com o Zeppelin, Metallica e bandas que duraram. Eles são imortais, e eu acho que nós temos um toque disso. Nós continuamos a fazer coisas que são vitais para as pessoas e eles amam isso.

Toda vez que vocês fazem um álbum ou terminam uma turnê, aparecem rumores de que vocês vão se separar. Já chegou perto alguma vez?
O mais perto que chegou foi no processo de criação do Vol. 3. Talvez até antes disso, quando nós estávamos na época do Iowa. Era ruim e nem era tudo nossa culpa. Algum de nós estava tendo momentos difíceis, mas a gente tinha as pessoas controladoras em nossa volta o tempo todo. Para uma banda nova que estava tendo muito sucesso, nós meio que tivemos nosso momento de “Behind The Music” o que foi bom. Se tivesse que ter acontecido, seria ali. O Vol. 3 foi uma celebração por estar nessa banda. Por mais que a gente se irrite um com o outro, a gente tira umas férias, volta e se diverte muito. Tem uns egos e atitudes brutais nessa banda, mas por alguma razão nós combinamos e damos certo. Os rumores vão persistir até o dia que a gente se separar, e aí vão ter rumores de que a gente não se separou (risos) vai ser ridículo.


Você ficou surpreso que o novo álbum, All Hope is Gone conseguiu o primeiro lugar?
Eu estava e não estava. Quando estávamos fazendo o álbum, eu já tinha falado isso no estúdio. Era um pouco de medo disfarçado e um pouco de esperança. Quando você está nessa área, você traça um objetivo, e quando isso aconteceu, eu fiquei perplexo. Claro que tivemos que lutar por isso e usar uns argumentos. Foi bom ver que 10 anos de trabalho trouxeram resultados e que os fãs nos apoiaram. Mesmo sabendo que eu saí e fui pro Stone Sour durante ter anos, todos eles voltaram. O melhor disso, um efeito colateral, foram as pessoas do gênero vindo nos agradecer. Virou um objetivo pra eles. Você não precisa ser uma banda pop ou de hip-hop ou alguma bandinha indie de sucesso semanal para ter seu álbum em primeiro lugar agora. Sempre batalhamos para mostrar um caminho para muitas bandas. Quando a área se mostra ruim no nosso gênero, sempre lutamos pra mostrar que tem talento ali. Então quando as pessoas dizem “obrigada” eu realmente levo a sério.

Você atribui o sucesso ao fato da banda ter ficado um pouco mais melódica no Vol.3 e diversificado a base de fãs? Foi uma decisão pensada aumentar a diversidade musical da banda?
Corey: nunca quer virar o cara que fica fazendo sequências sabe? Pra gente, se não estamos nos desafiando, é porque não estamos desafiando os fãs. Todos os quatro álbuns são muito diferentes e isso pra mim é o objetivo dessa banda. Muita gente teve a idéia errada de que esse seria um álbum mais suave, e é na verdade mais pesado que o Vol. 3 de muitas maneiras. Melodicamente, você quer tentar coisas novas. Pra mim foi importante tentar essas coisas, exatamente como fizemos no Vol. 3. Conseguimos isso com “Snuff” e “Dead Memories”. É sobre criar atmosferas diferentes para as músicas e ao mesmo tempo mostrar a maturidade de como andam as composições e as performances. É mais do que 9 minutos de “Olhem pra mim”. Era mais sobre a composição e nós conseguimos isso.

Quando você colocou “Snuff” perto de “This Cold Black” são duas coisas totalmente opostas.
Exatamente. Essa banda nunca teve medo de mostrar todos os lados do que somos capazes de fazer. Acho que é uma outra razão do porque nós não vamos a lugar algum, se você é bom em algo, continue fazendo.

É difícil colocar nove pessoas no mesmo ritmo quando você está escrevendo algo?
Hahaha! Sabe... é e não é. Teve gente que torceu o nariz pra “Snuff” no começo, mas quando você coloca seu amor ali se tornou uma música nova. De verdade. Ouvi uns fãs falando que era uma música do Stone Sour. Hum, na verdade não. Eu escrevi “Snuff” especialmente para o Slipknot. Lembro de ter tocado pro Paul e pro Joey e eles adoraram. Eu me lembro de ouvir tudo que os outros tinham feito e eu fiquei impressionado. Eu não costume derramar umas lágrimas sempre, mas aquilo… eu me senti muito feliz de ter ouvido porque é uma música muito importante pra mim. De novo, é pensar que as pessoas vão agir de um jeito mas ver que elas agem ao contrário. É a metáfora dessa banda (risos)

Falando em escrever músicas como “Snuff” para o álbum novo. Quando você tira a poeira das músicas do primeiro álbum, o que passa pela sua cabeça quando você volta para aquelas músicas antigas?
É estranho cara. Eu estava pensando sobre isso ontem a noite quando estava tocando “Me Inside” no ensaio. Essa foi a primeira música que eu toquei com a banda antes de assinar com a gravadora. Quando eu entrei na banda tinha muita pressão sobre se eu iria ficar na banda ou não. Eles não tinham idéia do que eu ia fazer. Tudo que eu tinha era a música, e eu escrevi basicamente quase tudo do álbum. Então eu entrei no estúdio e o Joey e o Clown ficaram me encarando na janela do estúdio. Eu estava nervoso pra começar e achando que eles iam me bater se eu fizesse merda. Eu entrei lá e fiz tudo e eles adoraram, de verdade. Era um começo de um lindo ódio. Então fomos ensaiar aquilo no palco, o Joey fechou os olhos e disse “Essa foi a primeira.” E eu respondi “Eu sei”. E isso foi literalmente 12 anos atrás. Tem sido uma viagem insana. Tem muita história que passa pela minha cabeça quando eu canto essas músicas. Eu diria que “Wait and Bleed” é a música que eu menos gosto. É boa, mas só mostra o potencial que a gente tinha. Os fãs amam. Mas eu lembro de ter escrito aquilo um dia depois de “Spit it Out”. Todas essas memórias passam pela minha cabeça quando a gente toca essas coisas – ir do porão para uma arena enorme. Coisas mais estranhas que isso nunca aconteceram.

E essas músicas mudaram? Obviamente, você tem 10 anos de experiência agora.
É um pouco mais… óbvio, nós vemos essas músicas agora com mais maturidade. É como ouvir o Metallica tocando “Creeping Death” hoje em dia. Tem um clima diferente, mas ainda é uma ótima música.

Essa é a minha única pergunta sobre isso – você acha que as pessoas colocam muita ênfase nas mascaras?
Acho que todo mundo é diferente, as opiniões são diferentes mesmo quando eles concordam (risos). Acho que depende da sua lógica. No final das contas é: se você gosta, gosta. E se não gosta, não gosta e pronto. Pra gente sempre foi mais sobre a arte do que qualquer outra coisa. Obviamente acaba sendo uma banda muito teatral porque as máscaras nos ajudam. Ao mesmo tempo é uma peça do quebra cabeça. E não é a única peça, são várias. Elas evoluem junto com a banda, e se não evoluíssem, seria apenas uma outra banda que não se descobre. Pra gente, é parte da história.

Eu posso imaginar que deve ser uma energia completamente diferente pra você cantar com o Slipknot e com o Stone Sour.
Ah sim, com certeza. Com essa banda é muito frenético. Eu nunca me machuco tanto na vida como em uma turnê do Slipknot.


Sim, eu ouvi algo sobre uns machucados
Ouviu? Meu Deus, é o primeiro show do Mayhem Festival e o Sid quebra os dois pés. Eu fiquei meio “Cara! Ta brincando né?” É ridículo. Tem toda uma coisa física que vem com essa banda e um pensamento de invencibilidade. Você está ali com os ícones e personalidades do mundo. Você está tocando em partes da mente que as pessoas não gostam de admitir que tem. É uma experiência com certeza. O Stone Sour é mais calmo, é o lado humano disso, tem uma alma ali completamente diferente dessa. Eu me sinto bem com as duas. É um sentimento de preenchimento que ninguém no mundo pode entender. É maravilhoso.

Você está falando sobre esses dois lados diferentes e agora tem histórias sobre você trabalhar em um álbum solo. Que tipo de coisa isso pode trazer que você não conseguiria com as duas outras bandas?
É basicamente meu lado compositor. Muita coisa que eu escrevo vem de Foo Fighters, Social Distortion e The Replacements. É esse tipo de coisa, rock bom do interior. Refrões enormes, e trechos com melodias elétricas, é aí que meu coração está. Quando eu comecei a escrever músicas aos 12 anos, era ali que eu me encontrava. Eu nunca me esforçava mais no riff do que na música em si. É disso que eu gosto. E quando isso ficar pronto, vai ser uma nova maneira das pessoas olharem pra mim, e eu estou bem com isso. Você pode ter a opinião que quiser sobre mim, só não tente me afastar, porque eu não vou a lugar nenhum.

Vou querer ver isso pronto.
Espero que fique bom e que as pessoas gostem. Mas no final de tudo é um álbum que eu preciso fazer por mim, pelo meu coração. Pouco me importa se vender apenas três cópias. Pra mim é o fato de fazer que importa.

Eu li uma entrevista sobre um livro. É algo que você possa falar?
Na verdade isso é muito engraçado. Eu estava falando sobre isso uns 5 minutos antes de você ligar, eu tenho umas duas idéias que eu quero escrever. Tem interesse de umas pessoas também. Provavelmente eu faria uma historia de vida, depois talvez um livro de opiniões. É uma área que eu sempre gostei. E de novo, não me importa se eu ganhe um dólar por isso, é uma coisa que eu vou fazer por mim. Eu sempre me orgulhei da minha habilidade pra escrever e é algo que eu quero compartilhar com o mundo. Se isso me render 5 dólares e um cigarro, eu já vou ficar muito feliz. (risos)

Como você evita ficar exausto fazendo tudo isso?
Vem do coração. Eu não vejo isso como uma comodidade, mas sim como uma expressão. Acho que é aí que muita gente nesse negócio se estressa. Eles se focam em muitas áreas pelo dinheiro, mas é triste, não dá certo. Não colocam a alma nisso. Basta ouvir aquela música de merda de Chris Cornell-Timberland e pronto, é tudo o que você precisa saber. Me mostra onde está a alma naquela porcaria. Pra mim é paixão. Direto assim, eu sou guiado pela paixão. Um DJ de uma rádio perguntou hoje pra mim se um dia eu entraria na política. Eu ri demais, eu perguntei se ele tava brincando, tenho muitas opiniões e controvérsias. Eu governo pelo meu coração, é tudo que eu sei fazer. Quando eu falo sobre alguma coisa, aquilo não passa da minha opinião e como eu me sinto, como eu governaria algo assim na casa branca? Eu levantaria e falaria que era besteira desde o primeiro momento. Eu não ia conseguir. Tudo que vale a pena de se fazer é paixão, e enquanto eu tiver isso, farei as coisas do meu jeito, e que se fodam as pessoas que não gostam.

Última pergunta. Eu falei com você poucos anos atrás, logo após a gravação do Vol.3. Sua atitude naquele tempo foi meio que “espere pra ver”. Você ia fazer a turnê, outro álbum do Stone Sour e aí quem sabe. Agora você está em turnê e vai fazer um álbum solo, você pensou naquilo?
Bom, eu estou em um momento que eu fico pensando constantemente em 5 anos de estrada, eu tenho muita coisa pra fazer. Eu acabei de construir um estúdio em casa onde eu vou produzir e gravar bandas de Des Moines. Quero começar algo marcante e fazer algumas coisas como produtor de bandas no interior ou outros lugares que as pessoas normalmente não iriam, mas é onde o talento está na maioria das vezes. Estou escrevendo música para outras bandas e coisas assim, acho que consigo fazer melhor do que as porcarias que andam nas rádios hoje em dia, tem coisas que eu estou pensando em fazer que não tem nada a ver com as bandas que eu estou. Tem uma coisa que... talvez... vai ser interessante. Não vou dizer nada agora, mas vai ser muito legal. Vou me envolver com lendas e fazer umas coisas bem legais. Gravar e talvez uns shows ao vivo. Veremos.


E sobre o Stone Sour e o Slipknot?
Ah, eu e o Clown já estamos planejando o próximo espetáculo do Slipknot. Vai ser uma coisa multimídia, vão ter coisas impressionantes. Também estou pensando no novo álbum do Stone Sour, agora eu estou decidindo qual eu gravo primeiro, o solo ou o do Stone Sour... ou os dois ao mesmo tempo, que é algo que com certeza eu conseguiria fazer. Agora eu só estou tocando de ouvido e arrumando tempo pra levar e buscar meu filho na escola. Talvez ir pra Disney, sabe?

Talvez você arrume tempo pra dormir também.
Eu vou dormir quando todo mundo desligar os relógios. Simples assim.

Corey, obrigada pelo tempo
Sem problemas, foi uma ótima conversa.

Sempre um prazer falar com você.
Te vejo lá embaixo.

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